Exercícios
EXERCÍCIOS TEATRAIS – I (MELLO, E. Brandi de Souza. Educação da voz falada. Rio de Janeiro, Atheneu, 1988.)
Para treinar a voz e a dicção:
1 – O prestidigitador prestativo e prestatário está prestes a prestar a prestidigitação prodigiosa e prestigiosa.
2 – A prataria da padaria está na pradaria prateando prados prateados.
3 – Os quebros e requebros do samba quebram os quebrantos dos falsos santos.
4 – Brito britou brincos de brilhantes brincando de britador.
5 – Branca branqueia as cabras brabas nas barbas das bruacas e bruxas branquejantes.
6 – Trovas e trovões trovejam trocando quadros trocados entre os trovadores esquadrinhados nos quatro cantos.
7- O grude da gruta gruda a grua da gringa que grita e, gritando, grimpa a grade da grota grandiosa.
8 – Plana o planador em pleno céu e, planando por cima do platô contempla as plantas plantadas na plataforma do plantador.
9 – O cricrilar do grilo é devido ao atrito de seus élitros.
10 – O lavrador é livre na palavra e na lavra mas não pode ler o livro que o livreiro quer vender.
EXERCÍCIOS TEATRAIS – II
1 – O bispo de Constantinopla é bom constantinopolizador. Quem o desconstantinopolizar, bom constantinopolizador será.
2- Num ninho de mafagafos tem cinco mafagafinhos. Tem também magafaços, maçagafas, maçagafinhos, mafafagos, magaçafas, maçafagas, magafinhos, magafafos e magafagafinhos.
3- Uma rua paralelepipezada por um paralelepipezador, Quem quiser desparalelepipezá-la, bom desparalelepipezador será.
4- Padre Pedro partiu a pedra no prato de prata. A pedra partiu o prato de prata do padre Pedro.
5- A aranha arranha a rã. A rã arranha a aranha Nem a aranha arranha a rã, nem a rã arranha a aranha.
6- Iara amarra a arara rara. A rara arara de Araraquara.
7- Um tigre, dois tigres, três tigres comem trigo de um trago.
8- A frota de frágeis fragatas, fretada por um franco frustrado, enfreado de frio, naufragou na refrega, por frêmitos flecheiros africanos.
14- O desinquivincavacador das caravelarias desinquivincavacaria as cavidades, que deveriam ser desinquivincavacadas.
EXERCÍCIOS TEATRAIS – III
1- Cinco bicas, cinco pipas, cinco bombas. Tira da boca da bica Bota na boca da bomba.
2- È um dedo, é um dado, é um dia.
É um dia, é um dado, é um dedo.
É um dedo, é um dia, é um dado.
É um dado, é um dedo, é um dia .
È um dia, é um dedo, é um dado.
É um dado, é um dia, é um dedo.
É um dia, é um dado, é um dedo.
É um dedo, é um dia, é um dado.
É um dado, é um dedo, é um dia .
È um dia, é um dedo, é um dado.
É um dado, é um dia, é um dedo.
3- O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo pra dizer ao tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem.
4- Meio milhão, dez limões, dois milhões; nove limões, três milhões, oito limões; quatro milhões, sete limões, cinco milhões; seis limões, seis milhões, cinco limões; sete milhões, quatro limões, oito milhões; três limões, nove milhões, dois limões; dez milhões, meio limão.
5- Não tem truque
troque o trinco
traga o troco
e tire o trapo do prato.
Tire o trinco,
não tem truque,
troque o troco
e traga o trapo do prato.
troque o trinco
traga o troco
e tire o trapo do prato.
Tire o trinco,
não tem truque,
troque o troco
e traga o trapo do prato.
EXERCÍCIOS TEATRAIS – IV
1- Amanda, anda
catibirianda
serramatutanda
firifirianda.
2-Marcela, ela
catibiriela
serramatutela
firifiriela.
catibiriela
serramatutela
firifiriela.
3-Angélica, élica
catibiriélica
serramatutélica
firifiriélica.
catibiriélica
serramatutélica
firifiriélica.
4-Natália, ália
catibiriália
serramatutália
firifiriália.
catibiriália
serramatutália
firifiriália.
5-Clara, ara
catibiriara
serramatutara
firifiriara.
catibiriara
serramatutara
firifiriara.
6-Pedro Augusto,
usto
catibiriusto
serramatutusto
firifiriusto.
usto
catibiriusto
serramatutusto
firifiriusto.
7-Eva, eva
catibirieva
serramatuteva
firifirieva .
catibirieva
serramatuteva
firifirieva .
8 -Raquel, el
catibiriel
serramatutel
firifiriel.
catibiriel
serramatutel
firifiriel.
9 -Ian, an
catiriban
serramatutan
fifirian.
catiriban
serramatutan
fifirian.
10-Tomaz, az
catibiribaz
serramatutaz
firifiriaz .
catibiribaz
serramatutaz
firifiriaz .
11-Zé Paulo, aulo
catibiriaulo
serramatutaulo
firifiriaulo.
catibiriaulo
serramatutaulo
firifiriaulo.
12-Tainara, ara
catibiriara
serramatutara
firifiriara.
catibiriara
serramatutara
firifiriara.
13-Laura, aura
catibiriaura
serramatutaura
firifiriaura.
catibiriaura
serramatutaura
firifiriaura.
14-Margarida, ida
catibiriida
serramamtutida
firifiriida.
catibiriida
serramamtutida
firifiriida.
Exercícios de Leitura Expressiva - Discursos
CACIQUE SEATLE ( ? -1865)
Em 1854, o governo dos Estados Unidos quis comprar as terras do chefe indígena Seatle. Sua resposta, transmitida ao presidente por carta, é a fala de um mundo ancestral e anímico. Sua importância cresceu com o tempo, a partir da expansão da consciência ecológica. É hoje uma peça famosíssima, distribuída pelo Programa do Meio Ambiente da ONU.
1. O presidente declarou em Washington que deseja comprar a nossa terra. Mas como se há de comprar ou vender o céu, a terra? Tal idéia é estranha para nós. Se não possuímos a presença do ar, e o brilho da água, como se há de comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrado para o meu povo. Cada agulha reluzente de pinheiro. Cada praia arenosa. Cada campina. Cada inseto que zumbe. Tudo isso é sagrado na memória e na experiência do meu povo.
2. Conhecemos a seiva que corre pelas árvores tal como conhecemos o sangue que corre pelas nossas veias. Somos parte da terra, e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs. O urso, o gamo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, as essências do prado, o calor do corpo do pônei e o homem, todos pertencem à mesma família. A água brilhante que se escoa nos ribeiros e nos rios não é somente água, mas o sangue dos nossos ancestrais.
3. Se lhe vendermos a nossa terra, você terá de lembrar-se de que ela é sagrada. Cada reflexo que, como fantasma, aparece na límpida água dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz do pai do meu pai. Os rios são nossos irmãos. Eles aplacam nossa sede, transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Por isso você deve ter para com os rios a benevolência que teria com qualquer irmão.
4. Se lhe vendermos a nossa terra, lembre-se de que o ar é precioso. Lembre-se de que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso avô seu primeiro alento recebe também seu último suspiro. O vento dá aos nossos filhos o espírito da vida. Por isso, se lhe vendermos a nossa terra, você precisa mantê-la à parte, como algo sagrado, como um lugar aonde um homem pode ir expor-se ao vento que é perfumado pelas flores do prado.
5. Ensinará você aos seus filhos o que nós ensinamos aos nossos filhos, que a terra é nossa mãe? O que acontece à terra acontece aos filhos da terra. Isso nós sabemos. A terra não pertence ao homem. O homem pertence à terra. Todas as coisas estão ligadas, como o sangue, que nos une a todos.
6. O homem não tece a teia da vida; nela, ele é apenas um fio. O que ele faz para a teia, ele faz para si mesmo. Uma coisa nós sabemos: nosso Deus é também o seu Deus. A terra lhe é preciosa. E danificar a terra é desprezar o seu criador.
7. O destino de vocês é um mistério para nós. Que acontecerá quando os búfalos tiverem sido mortos? Os cavalos selvagens domados? Que acontecerá quando todos os cantos secretos da floresta estiverem impregnados do cheiro de muitos homens, e a vista das sazonadas colinas estiver escondida pelos fios que falam?
8. Onde estará a brenha? Desapareceu. Onde estará a águia? Desapareceu. E o que é dizer adeus ao pônei veloz e à caça, o fim do viver e o começo do sobreviver? Quando o último pele-vermelha tiver desaparecido com sua selva, e sua lembrança for apenas sombra de uma nuvem movendo-se por sobre a pradaria, ainda estarão aqui estas praias e estas florestas. Restará ainda algo do espírito do meu povo?
9. Nós amamos esta terra tal como o recém-nascido ama as batidas do coração de sua mãe. Por isso, se lhe vendermos a nossa terra, ame-a como nós a temos amado. Preocupe-se com ela como nós nos temos preocupado. Tenha em mente a lembrança da terra tal como ela for quando você a receber. Preserve a terra para todas as crianças e ame-a como Deus ama a todos nós.
10. Assim como nós somos parte da terra, também você é parte da terra. Esta terra é preciosa para nós e também para você. Uma coisa nós sabemos: só há um Deus. Nenhum homem, seja pele-vermelha ou branco, pode viver isolado. Afinal, somos todos irmãos.
CHAPLIN ( 1189 - 1977 )
Charles Spencer Chaplin, cineasta e comediante inglês, criou de uma das personagens de maior sucesso do cinema mundial, o Carlitos. O discurso é da personagem no filme O Grande Ditador.
1. Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar a todos, se possível: judeus, o gentio... negros... brancos. Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo, não para o seu infortúnio. Por que temos que odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.
2. O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém desviamonos dele. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da produção veloz, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz em grande escala, tem provocado a escassez.
3. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade; mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura! Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo estará perdido.
4. A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessa aproximação é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante, a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora... Milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que oprime seres humanos e encarcera inocentes.
5. Aos que me podem ouvir, eu digo: “Não desespereis!” A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbirão e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, mesmo que morram homens, a liberdade nunca perecerá.
6. Soldados! Não vos entregueis a esses homens violentos... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar ao mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação racionada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquinas. Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossa alma! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os desumanos.
7. Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou de um grupo de homens, mas de todos os homens! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas... o poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa!
8. Portanto, em nome da democracia, usemos esse poder, unamo-nos todos nós! Lutemos por um mundo novo... um mundo bom, que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
9. É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à aventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
10. Hannah, estás me ouvindo?! Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah?! O sol vai rompendo as nuvens, que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo, um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da violência. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e, afinal, começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!
REV. MARTIN LUTHER KING (1929-1968)
Líder da luta contra a segregação racial nos Estados Unidos.O discurso foi realizado em 28 de agosto de 1963, no Lincoln Memorial, ao final da famosa “Marcha para Washington”. O mote “Eu tenho um sonho” lhe foi sugerido por uma senhora que participava do movimento contra a segregação.
No dia 4 de abril de 1968, Luther King foi assassinado por um racista branco, na sacada do Motel Lorraine, em Menphis, no Tennesse.
1.Eu tenho um sonho! Eu tenho um sonho no qual um dia esta nação se erguerá e viverá o verdadeiro princípio do seu credo: Nós acreditamos que esta verdade é autoevidente, que todos os homens são criados iguais.
2.Eu tenho um sonho de que algum dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos dos escravos e os filhos dos senhores de escravos se sentarão juntos à mesa da fraternidade. Esta é a nossa esperança. É com esta fé que eu retorno ao Sul.
3.Com esta fé, nós estaremos prontos a trabalhar juntos, a lutar juntos, a irmos para a cadeia juntos, a nos erguermos juntos pela liberdade, sabendo que seremos livres algum dia.
4.Este será o dia quando os filhos de Deus estarão prontos a cantar com um novo significado: Meu país... doce terra da liberdade, para ti eu canto. Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos Peregrinos, de qualquer lado da montanha, deixe tocar o sino da liberdade. E se a América for uma grande nação um dia, isto também será verdadeiro. Assim, deixe tocar o sino da liberdade!
5.Quando deixarmos o sino da liberdade tocar, quando o deixarmos tocar em qualquer vilarejo ou aldeola, de qualquer estado, de qualquer cidade, estaremos prontos para nos erguer neste dia, quando todos os filhos de Deus, brancos ou negros, judeus ou gentios, protestantes ou católicos, estaremos prontos para nos dar as mãos e cantar as palavras de um velho spiritual negro: Por fim livres! Por fim livres! Graças, senhor Todo-Poderoso, estaremos livres, enfim.
PADRE VIEIRA (1608-1697)
Padre Antônio Vieira, o maior orador sacro português, foi uma das figuras mais lúcidas de seu tempo. Já se disse que Vieira vale por toda uma literatura. Sua importância como orador, homem de idéias e de ação é tal que achamos por bem publicar não apenas um de seus famosos sermões, mas excertos de alguns deles.
SERMÃO DA SEXAGÉSIMA
(Pregado na Capela Real, em Lisboa, no ano de 1655)
(TRECHOS:)
(TRECHOS:)
1. ENTRE O SEMEADOR E O QUE SEMEIA HÁ MUITA DIFERENÇA. UMA COISA É O SOLDADO, E OUTRA COISA É O QUE PELEJA; UMA COISA É O GOVERNADOR, E OUTRA COISA O QUE GOVERNA. DA MESMA MANEIRA, UMA COISA É O SEMEADOR, E OUTRA COISA É O QUE SEMEIA; UMA COISA É O PREGADOR, E OUTRA É O QUE PREGA.
2. O SEMEADOR E O PREGADOR, É NOME; O QUE SEMEIA E O QUE PREGA, É AÇÃO; E AS AÇÕES SÃO AS QUE DÃO O SER AO PREGADOR. TER NOME DE PREGADOR, OU SER PREGADOR DE NOME, NÃO IMPORTA NADA; AS AÇÕES, A VIDA, O EXEMPLO, AS OBRAS, SÃO AS QUE CONVERTEM O MUNDO.
3. O MELHOR CONCEITO QUE O PREGADOR LEVA AO PÚLPITO, QUAL CUIDAIS QUE É? É O CONCEITO QUE DE SUA VIDA TÊM OS OUVINTES. ANTIGAMENTE CONVERTIA-SE O MUNDO: HOJE, POR QUE NÃO SE CONVERTE NINGUÉM? PORQUE HOJE PREGAM-SE PALAVRAS E PENSAMENTOS; ANTIGAMENTE PREGAVAM-SE PALAVRAS E OBRAS. PALAVRAS SEM OBRAS SÃO TIROS SEM BALAS; ATROAM, MAS NÃO FEREM.
4. A FUNDA DE DAVID DERRUBOU AO GIGANTE; MAS NÃO O DERRUBOU COM O ESTALO, SENÃO COM A PEDRA. AS VOZES DE SUA HARPA LANÇARAM FORA OS DEMÔNIOS DO CORPO DE SAUL; MAS NÃO ERAM VOZES PRONUNCIADAS COM A BOCA, ERAM VOZES FORMADAS COM A MÃO. PARA FALAR AO VENTO BASTAM PALAVRAS; PARA FALAR AO CORAÇÃO SÃO NECESSÁRIAS OBRAS. [...]
5. Para o sermão vir nascendo há de ter três modos de cair; há de cair com queda, há de cair com cadência, há de cair com caso. A queda é para as coisas; porque hão de vir bem trazidas e em seu lugar: hão de ter queda. A cadência é para as palavras; porque não hão de ser escabrosas, nem dissonantes: hão de ter cadência. O caso é para a disposição; porque há de ser tão natural e tão desafetada que pareça caso e não estudo. [...]
6. Por isso Isaías chamou aos pregadores nuvens. A nuvem tem relâmpago, tem trovão e tem raio: relâmpago para os olhos, trovão para os ouvidos, raio para o coração: com o relâmpago ilumina, com o trovão assombra, com o raio mata. Mas o raio fere a um, o relâmpago a muitos, o trovão a todos. Assim há de ser a voz do pregador: um trovão do céu que assombra e faça tremer o mundo. [...]
7. Eis aqui o que devemos pretender nos nossos sermões; não que os homens saiam contentes de nós, senão que saiam descontentes de si; não que lhes pareçam bem os nossos conceitos, mas que lhes pareçam mal os seus costumes, as suas vidas, o seu passatempo, as suas ambições, e enfim todos os seus pecados. Contanto que se descontentem de si, descontentem-se embora de nós.
EXERCÍCIOS DE INTERPRETAÇÃO
Leia de forma teatral as seguintes Fábulas de Esopo:
O LEÃO APAIXONADO
Certa vez um leão se apaixonou pela filha de um lenhador e foi pedir a mão dela em casamento. O lenhador não ficou muito animado com a idéia de ver a filha com um marido perigoso daqueles e disse ao leão que era muita honra, mas muito obrigado, não queria. O leão se irritou; sentindo o perigo, o homem foi esperto e fingiu que concordava:
- É uma honra, meu senhor. Mas que dentões o senhor tem! Que garras compridas! Qualquer moça ia ficar com medo. Se o senhor quer casar com minha filha, vai ter que arrancar os dentes e cortar as garras.
O leão apaixonado foi correndo fazer o que o outro tinha mandado; depois voltou a casa do pai da moça e repetiu o seu pedido de casamento. Mas o lenhador, que já não sentia medo daquele leão manso e desarmado, pegou um pau e tocou o leão para fora de sua casa.
Moral: Quem perde a cabeça por amor sempre acaba mal.
O LOBO E A CEGONHA
Um lobo devorou sua caça tão depressa, com tanto apetite, que acabou ficando com um osso entalado na garganta. Cheio de dor, o lobo começou a correr de uma lado para o outro soltando uivos, e ofereceu uma bela recompensa para quem tirasse o osso de sua garganta. Com pena do lobo e com vontade de ganhar o dinheiro, uma cegonha resolveu enfrentar o perigo. Depois de tirar o osso, quis saber onde estava a recompensa que o lobo tinha prometido.
- Recompensa? – berrou o lobo.
– Mas que cegonha pedinchona! Que recompensa que nada! Você enfiou a cabeça na minha boca e em vez de arrancar sua cabeça com uma dentada deixei que você a tirasse lá de dentro sem um arranhãozinho.
Você não acha que tem muita sorte, seu bicho insolente? Dê o fora e se cuide para nunca mais chegar perto de minha garras!
Moral: Não espere gratidão ao mostrar caridade para com um inimigo.
A LEBRE E A TARTARUGA
Um dia uma tartaruga começou a contar vantagens dizendo que corria muito depressa, que a lebre era muito mole, e enquanto falava a tartaruga ria e ria da lebre. Mas a lebre ficou mesmo impressionada foi quando a tartaruga resolveu apostar uma corrida com ela.
“Deve ser só de brincadeira!”, pensou a lebre.
A raposa era o juiz e recebia as apostas. A corrida começou, e na mesma hora, claro, a lebre passou à frente da tartaruga. O dia estava quente, por isso lá pelo meio do caminho a lebre teve a idéia de brincar um pouco. Depois de brincar, resolveu tirar um soneca à sombra fresquinha de uma árvore.
“Se por acaso a tartaruga me passar, é só correr um pouco e fico na frente de novo”, pensou.
A lebre achava que não ia perder aquela corrida de jeito nenhum. Enquanto isso, lá vinha a tartaruga com seu jeitão, arrastando os pés, sempre na mesma velocidade, sem descansar nem uma vez, só pensando na chegada.
Ora, a lebre dormiu tanto que esqueceu de prestar atenção na tartaruga. Quando ela acordou, cadê a tartaruga? Bem que a lebre se levantou e saiu zunindo, mas nem adiantava! De longe ela viu a tartaruga esperando por ela na linha de chegada.
Moral: Devagar e sempre se chega na frente.
A RAPOSA E AS UVAS
Morta de fome, uma raposa foi até um vinhedo sabendo que ia encontrar muita uva. A safra havia sido excelente. Ao ver a parreira carregada de cachos enormes, a raposa lambeu os beiços. Só que sua alegria durou pouco: por mais que tentasse, não conseguia alcançar as uvas. Por fim, cansada de tantos esforços inúteis, resolveu ir embora dizendo:
- Por mim, quem quiser essas uvas pode levar. Estão verdes, estão azedas, não me servem. Se alguém me desse essas uvas eu não comeria.
Moral: Desprezar o que não se consegue conquistar é fácil.
O SAPO E O BOI
Há muito, muito tempo existiu um boi imponente. Um dia o boi estava dando o seu passeio da tarde quando um pobre sapo todo mal vestido olhou para ele e ficou maravilhado. Cheio de inveja daquele boi que parecia o dono do mundo, o sapo chamou os amigos.
- Olhem só o tamanho do sujeito! Até que ele é elegante, mas grande coisa: se eu quisesse também era.
Dizendo isso o sapo começou a estufar a barriga e em pouco tempo já estava com o dobro do seu tamanho normal.
- Já estou grande que nem ele? – perguntou aos outros sapos.
- Não, ainda está longe! – respondeu os amigos.
O sapo se estufou mais um pouco e repetiu a pergunta.
- Não – disseram de novo os outros sapos -, e é melhor parar com isso porque senão vai acabar se machucando.
Mas era tanta a vontade do sapo de imitar o boi que ele continuou se estufando, estufando – até estourar.
- Não, ainda está longe! – respondeu os amigos.
O sapo se estufou mais um pouco e repetiu a pergunta.
- Não – disseram de novo os outros sapos -, e é melhor parar com isso porque senão vai acabar se machucando.
Mas era tanta a vontade do sapo de imitar o boi que ele continuou se estufando, estufando – até estourar.
Moral: Seja sempre você mesmo.
A REUNIÃO GERAL DOS RATOS
Uma vez os ratos, que viviam com medo de um gato, resolveram fazer uma reunião para encontrar um jeito de acabar com aquele eterno transtorno. Muitos planos foram discutidos e abandonados. No fim um rato jovem levantou-se e deu a idéia de pendurar uma sineta no pescoço do gato: assim sempre que o gato chegasse perto eles ouviriam a sineta e poderiam fugir correndo. Todo mundo bateu palmas: o problema estava resolvido. Vendo aquilo, um rato velho que tinha ficado o tempo todo calado levantou-se de seu canto. O rato falou que o plano era muito inteligente, que com toda a certeza as preocupações deles tinham chegado ao fim.
Só faltava uma coisa: quem ia pendurar a sineta no pescoço do gato?
Moral: Inventar é uma coisa, fazer é outra.
A QUEIXA DO PAVÃO
Chateado porque tinha uma voz muito feia, o pavão foi se queixar com a deusa juno. - é verdade que você não sabe cantar – disse a deusa – Mas você é tão lindo, para que se preocupar com isso?
Só que o pavão não queria saber do consolo.
- De que adianta a beleza com uma voz destas?
Ouvindo aquilo, Juno se irritou.
- Cada um nasce com uma coisa boa. Você tem beleza, a águia tem força, o rouxinol canta. Você é o único que não está satisfeito. Pare de se queixar. Se recebesse o que está querendo, com certeza ia achar outro motivo para reclamar.
Moral: Em vez de invejar os talentos dos outros, aproveite o seu ao máximo.
O URSO E AS ABELHAS
Um urso topou com uma árvore caída que servia de depósito de mel para um enxame de abelhas. Começou a farejar o tronco quando uma das abelhas do enxame voltou do campo de trevos. Adivinhando o que ela queria, deu uma picada daquelas no urso e depois desapareceu no buraco do tronco. O urso ficou louco de raiva e se pôs a arranhar o tronco com as garras na esperança de destruir o ninho. A única coisa que conseguiu foi fazer o enxame inteiro sair atrás dele. O urso fugiu a toda velocidade e só se salvou porque mergulhou no lago.
Moral: Mais vale suportar um só ferimento em silêncio que perder o controle e acabar todo machucado.
O GALO E A RAPOSA
No meio dos galhos de uma árvore bem alta, um galo estava empoleirado e cantava a todo volume. Sua voz esganiçada ecoava na floresta. Ouvindo aquele som tão conhecido, uma raposa que estava caçando se aproximou da árvore. Ao ver o galo lá no alto, a raposa começou a imaginar algum jeito de fazer o outro descer. Com a voz mais boazinha do mundo, cumprimentou a galo dizendo:
- Ò meu querido primo, por acaso você ficou sabendo da proclamação de paz e harmonia universal entre todos os tipos de bichos da terra, da água e do ar? Acabou essa história de ficar tentando agarrar os outros para comê-los. Agora vai ser tudo na base do amor e da amizade. Desça para a gente conversar com calma sobre as grandes novidades!
O galo, que sabia que não dava para acreditar em nada que a raposa dizia, fingiu que estava vendo uma coisa lá longe. Curiosa, a raposa quis saber o que ele estava olhando com ar tão preocupado.
- Bem – disse o galo – acho que estou vendo uma matilha de cães ali adiante.
- Nesse caso acho melhor eu ir embora – disse a raposa.
- O que é isso prima? – disse o galo. – Por favor, não vá ainda! Já estou descendo! Não vá me dizer que está com medo dos cachorros nesses tempo de paz ?!
- Não, não é medo – disse a raposa -, mas... e se eles ainda não estiverem sabendo da proclamação?
- Nesse caso acho melhor eu ir embora – disse a raposa.
- O que é isso prima? – disse o galo. – Por favor, não vá ainda! Já estou descendo! Não vá me dizer que está com medo dos cachorros nesses tempo de paz ?!
- Não, não é medo – disse a raposa -, mas... e se eles ainda não estiverem sabendo da proclamação?
Moral: Cuidados com as amizades muito repentinas.
O VENTO E O SOL
O vento e o sol começaram a discutir para qual dos dois era mais forte. Nisso viram um viajante andando pela estrada de casaco seria considerado o mais forte dos dois. O vento começou: deu um sopro tão forte que quase arrebentou as costuras do casaco. Mas o viajante agarrou o casaco com as duas mãos e segurou tão firme que não adiantou nada o vento continuar soprando até se cansar. Chegou a vez do sol. Primeiro ele afastou as nuvens das redondezas, depois apontou seus raios mais ardentes para a cabeça do viajante. Em pouco tempo, frouxo de calor, o homem arrancou o casaco e correu para o primeira sombra que avistou.
Moral: Mais pode a persuasão que a força.
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